Hoje
deixo de lado as roupas e “cenas económicas” e falo-vos diretamente do coração.
Tenho 30 anos e muitos sonhos por concretizar; nunca tive um feitio
muito fácil e passava (passo) o tempo a contrariar muitos dos conselhos que me
dão (ou pelo menos tentam). Lembro-me de ser miúda e querer fazer parte dos
Onda Choc (nunca dos Ministars porque se vestiam mal), mas como não tenho voz
de rouxinol nunca lutei muito por isso. Ao mesmo tempo passava a vida a brincar
com Barbies – veste e despe, penteia e despenteia – no fim acabavam bem
vestidas mas de coração partido. No
Natal recebia quase sempre tudo o que pedia (a minha avó paterna mimava-nos
imenso e não podia faltar nada aos meninos!!!) – um ano recebi um jogo - o
“Desenha a moda” – porque a minha mãe sempre estimulou o nosso lado criativo e
se não fizemos mais foi porque não era possível! Lembro-me de ficar horas a
“desenhar” (na realidade eu não desenhava porque aquilo era por decalque);
lembro-me também de passar tardes a fazer passagens de modelos para a câmara de
filmar. Devorava telenovelas e sofria os amores e
desamores delas todas. Era uma miúda igual a todas as outras – com a exceção de
que não ia de fato de treino para a escola nem vestia cor-de-rosa.
- “Tens muita imaginação!”, era o que me diziam as pessoas
crescidas! Apesar dos muitos dissabores tive uma infância feliz e fui sempre
protegida do lado “mau”.
Os anos foram passando… a mente criativa
continuava lá, mas na hora de decidir o futuro tive vergonha de enveredar pelo
caminho que me parecia o mais acertado para mim. Cheguei ao 9º ano e decidi que
tinha que ir para a área que na altura se chamava “Científico-Natural”; a minha
mãe nunca me disse para não o fazer (apesar de até os testes psicotécnicos me
levarem para outros caminhos) – como a grande maioria dos meus amigos ia…eu
também fui.
Nunca fui uma aluna brilhante mas também nunca
tive vergonha de dizer que não sabia, ou não entendia, e por isso sempre fui
fazendo as disciplinas, umas melhores do que outras (sim.. com algumas negativas pelo meio). Findo o 12º estava na altura de
decidir novamente – Farmácia era a primeira opção, mas não havia nota para
isso… e como era MESMO o que queria, decidi repetir o 12º para subir notas.
Nesse ano fiz voluntariado no IPO, trabalhei com o IPJ em bairros sociais,
estudei, mas subir TODAS as notas…não aconteceu. Volto a candidatar-me e coloco
em opção (não me lembro qual) Química e em Setembro lá sai a listagem e à
frente do meu nome dizia “COLOCADA”. Entrei para a FCUP a pensar que no final
do primeiro ano iria mudar para Farmácia. Nunca mudei, nunca mais quis: aprendi
com os melhores, estudei com pessoas que hoje publicam artigos científicos nas
mais conceituadas revistas do meio; aprendi muito, diverti-me outro tanto, fiz
amigos para a vida. Questionei-me imensas vezes se era mesmo isto que queria
para a minha vida – nunca consegui uma resposta assertiva. Terminada a Licenciatura fiz Mestrado e,
ironicamente, fui parar à faculdade de Farmácia para uma parceria com o meu
laboratório. Com o Mestrado vem também um trabalho em part-time num grande armazém espanhol. Aqui começo a ter o contacto com a Moda. Por lá fiquei durante 3
anos. Foi o trabalho onde mais aprendi, onde mais cresci a nível humano. Foi
outra faculdade, outra escola para mim; fiz amigos que ainda hoje conservo; faço
coisas no meu trabalho atual que aprendi com quem já trabalhava no ramo há
muito tempo.
A Química foi ficando para trás. Opção? Falta de oportunidade? Falta
de vontade de agarrar a ciência? Tudo junto, sim! Ainda fui dando explicações…
Aprendi que ensinar é uma bênção e, passando a redundância, aprendi com todas
elas… muito! E mais uma vez, ainda hoje conservo esses contactos e tenho muito
orgulho em ter feito parte do caminho dessas grandes mulheres que estão hoje.
“Podes ser o que quiseres, desde que sejas feliz
(e que pagues, porque eu não posso sustentar todos os teus sonhos, dizia a
minha mãe)”.
Enquanto trabalhei em part-time
tomei conhecimento de uma formação de Marketing de Moda (gratuita), mas não era
possível frequentar porque era ao Sábado de manhã (e eu trabalhava só aos fins
de semana). Tive que adiar… falta de tempo. Pensei para mim - “Não tinha que
ser!!”
A vida continuou a dar voltas e decidi mudar de emprego – tinha que
ganhar mais dinheiro, tinha que estar mais ocupada, tinha que aprender mais.
Passados 3 anos mudo de emprego, para um projeto que na altura me pareceu MUITO
aliciante – não era...mas, mais uma vez, aprendi que me fartei, fiz novos
amigos, uns ainda guardo, outros não falo tanto, mas ficaram guardados! 9 meses depois fico desempregada e agarro aquilo que tinha deixado
para trás há muito tempo - o marketing
de moda. Com esta formação vem todo um novo conhecimento de uma área que eu
desconhecia. Aprendi com pessoas incríveis, conheci gente tão diferente e
pensei muitas vezes “Podes ser o que quiseres…”. A menos de um mês de terminar
o curso surge um emprego irrecusável – fazer parte da abertura de uma primeira
loja em Portugal de uma marca. Até aqui tudo bem… MAS, a loja é em Lisboa… e
agora? A 30 dias de fazer 30 anos mudo-me para a capital, deixando para trás os
meus amigos do coração e o meu namorado (estes foram os que mais me apoiaram,
diga-se).
Estou há 8 meses em Lisboa e posso dizer que sou uma pessoa
realizada. Trabalho com pessoas fantásticas, a grande maioria ligada à área da
moda, que me ensinam coisas novas todos os dias. Trabalho atrás de um balcão e
sou feliz. E desengane-se quem ache que é fácil as pessoas entenderem “isto”;
há muita gente que não entende – a uns eu tento explicar, mas não a outros. Não
temos que nos tornar aquilo que os outros pensaram para nós. Não temos! E sei
que muitas vezes sou vista como “oh! Caprichosa…”.
Tenho 30 anos e ainda não ganho o suficiente para morar sozinha,
para me sustentar; tenho 30 anos e não tenho planos para me casar e ter filhos
tão cedo. Tenho 30 anos e ainda não vi ¼ do mundo que quero ver. Tenho 30 anos
e tenho que responder a perguntas como “Mas não Voltas para o Porto? Mas vais
ficar aí? Estás a pensar ir para fora?”. Tenho 30 anos e não sei o que
responder a estas perguntas, mas se me quiserem perguntar se sou feliz, isso eu
sei responder. Tenho 30 anos e se o tempo voltasse atrás o mais certo era fazer
tudo igual.
No fundo o que eu quero passar com este “pequeno testemunho” são
coisas tão simples como: não temos que ter um (ou dois) canudo
na mão para fazer o que gostamos, não temos que ter vergonha de estar atrás de
um balcão – vergonha deviam ter as pessoas que pensam que é profissão para
“quem não estudou...”. O que eu quero é que cada vez que uma pessoa entre em
qualquer estabelecimento respeite quem lá trabalha, como ao vosso gerente de
conta (que também erra), o professor dos vossos filhos (que também erra), o
médico (que é humano e também não é perfeito).
O importante é sermos felizes (e ter algum dinheiro na conta, é
certo), mas não há melhor sensação do que acordar e pensar que vai ser mais “um
bom dia”. Demorei muito a chegar aqui e não é por aqui que quero ficar. Sei que
ainda vou percorrer muito caminho, sei que vão existir dias em que não vou
acordar com essa felicidade, sei que existem e vão existir mais dias, em que a
frase “Porque me fizeste bonita em vez de rica” vai fazer todo o sentido.
Quando esses dias chegarem volto a lutar e a desafiar os meus sonhos, porque
sim, ninguém é feliz a 100%, mas podemos ser a 80%! E lembrem-se que podemos
ser o que quisermos.
Imagens via pinterest.com
Gosto:-)
ResponderEliminarObrigada, Miguel :)
EliminarA única coisa que me ocorre dizer (e com muito orgulho): "CONHEÇO-A HÁ 20 ANOS CARAGO" :)
ResponderEliminarSomos tantos com canudo ou canudos nas mãos e tão poucos a serem felizes. Por isso miúda tu és feliz...força nisso!
ResponderEliminarObrigada Teresa! Um beijinho
EliminarFoi um verdadeiro prazer ler o teu texto e conhecer-te melhor.
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